02 outubro, 2007

«Objective Burma»


Myanmar está há quarenta e cinco anos sob o jugo de uma aberrante ditadura militar.
No decorrer de 1988 teve lugar um levantamento popular que se saldou em três mil mortes e originou um recrudescimento da repressão, conseguindo mesmo assim conduzir à realização de eleições, que foram amplamente vencidas pela Liga Nacional para a Democracia, mas cujo resultado não foi respeitado pela Junta no poder, a qual ou prendeu ou forçou ao exílio os deputados eleitos.
Nessa altura, a passividade da comunidade internacional foi quase absoluta, com excepção da Amnistia Internacional que desde sempre denunciou a situação.
Apenas a concessão em 1991 do prémio Nobel da Paz, à histórica líder da oposição e incansável lutadora pela causa da liberdade, Aung San Suu Kyi, que desde essa data tem vivido entre a prisão e a detenção domiciliária, fez com que essa indiferença obscena fosse ligeiramente atenuada.
Entretanto, a mesma comunidade internacional apercebeu-se de repente, da falta de liberdade existente no país e da circunstância do povo da Birmânia viver em condições degradantes -cerca de 90% da população está abaixo do limiar da pobreza-, decidiu interromper um silêncio que se tinha tornado "ensurdecedor" e começou a incentivar os austeros e úteis monges para o actual protesto contra o estado das coisas.
Como é óbvio, este súbito ataque de filantropia tem sobretudo a ver com o facto de Myanmar ocupar o décimo lugar na lista de países possuidores de gás, para além de contabilizar mais de três mil milhões de barris de petróleo no subsolo e na sua costa e de ter adjudicado à China, que faz tábua rasa dos Direitos Humanos, a venda do gás natural.
Aliás, a preocupação com o desrespeito pelos Direitos Humanos nos países da região é normalmente bastante selectiva e, pelos vistos, depende das alianças e cumplicidades estabelecidas com os respectivos governos pseudo-democráticos, mais ou menos despóticos, como os do Paquistão, do Sri Lanka, do Bangladesh e da Tailândia, na generalidade dos quais nem sequer há monges...
Imagem: Web

Etiquetas: