21 abril, 2007

O Homem do Satuo

Era uma vez um Português do interior, com um nome que já não se usa, que, desembarcado pela primeira vez em Santa Apolónia, logo se convenceu que tinha chegado à Europa, a caminho da Suiça.
Daí para cá, foram muitos os anos de permanência e exaltação, na ribalta dos topos de gama, dos cinemas-pipoca, das marinas e dos fontanários luminosos; continuamente vidrado no reflexo das vitrinas, apesar de não haver gravata de seda ou blazer do Massimo, que lhe conferissem o ar de urbanita porque tanto porfiava.
Até o aparato com que cultivava o puro havano, devidamente enquadrado pela pêra que lhe encimava a gola, funcionou sempre como arrebique das manifestações de jactância de novo-rico rústico, mas nunca lhe concedeu a tão desejada pátina de pessoa com pedigree.
Quando há anos rebentou o escândalo da presumível corrupção em que estaria envolvido, terá experimentado algum estremecimento, mas, rapidamente, recuperou o ritmo e enfrentou sem hesitações as inteligenzias do partido, marcando o terreno e fazendo anunciar, entre outros cerimoniais, o seu desejo de voltar à tribuna dos courts, tendo o seu regresso triunfal, sido meticulosamente preparado, por uma equipa de apaniguados que, na eventual expectativa de estipêndios vários, lhe manteve fidelidade.
Não constituiu surpresa para ninguém, o facto dos eleitores lhe terem proporcionado a vitória, muitos deles, justificando o voto com o argumento de que o Edil podia ser corrupto, mas tinha apresentado trabalho.
Entre iniciativas de fachada e obras de reconhecido valor para os munícipes, a sua almejada, mas até agora adiada, coroa de glória é algo parecido com um comboio fantasma,o Satuo, que não transporta ninguém e que para nada serve, a não ser para poluir os ouvidos de uns tantos, já que interrompeu a sua marcha ainda longe do destino traçado.
Veio agora a público, com ar circunspecto, comunicar que soube, finalmente, as acusações que sobre ele impendem e das quais se diz inocente.
É caso para dizer que: O que ele sabe (agora), já nós esquecemos... depois de tanto tempo.

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