19 março, 2007

Paul(o)atinamente à paul(o)ada

Algum tempo antes do espectáculo grotesco que abrilhantou o conclave da direita videirinha e trauliteira, que calhou em sorte ao país cabisbaixo, ninguém imaginaria que seria à paul(o)ada que as portas do Caldas se iriam reabrir para quem, depois de ter sido um dos mais destemidos cultores do “nacional-discursismo” e afamado alquimista de feiras e romarias, se preparava paul(o)atinamente para regressar, com pompa e circunstância, à ribalta de que estava arredado.
Na verdade, após um período em que demonstrou uma invulgar aptidão para vender um xarope rançoso com o rótulo de "Elixir da eterna juventude", em tudo o que era Lar de Terceira Idade, PP chegou enfim à governação, onde fez gala de uma arrogância quase marcial e se distinguiu pela eloquência, umas vezes melíflua e apelativa, com que, qual estrénuo paladino da segurança e da protecção dos desvalidos, anunciou o fim da criminalidade nas zonas suburbanas, prometendo um polícia em cada esquina ou, metálica e cortante, quando fez agulha para outros interesses mais profundos e virados para um tipo de "segurança" diferente, como a abstrusa renovação da frota de submergíveis.
Não obstante a reduzida dimensão da sua base de suporte, não hesitou em insinuar-se desproporcionadamente em todos os espaços de influência do poder que, astuciosamente, preencheu com uma legião de assessores de utilidade duvidosa, para não dizer suspeita, mas ávidos de prebendas e sinecuras.
No momento da derrota anunciada, optou inteligentemente por assumir um silêncio apaziguador dos fantasmas que começavam a agitar-se e decidiu-se por uma pausa oportuna, que seria mais ou menos prolongada consoante a evolução da situação política, até porque sabia que não se perfilaria no imediato, qualquer delfim adequado à vacatura, sobretudo, no seio de uma organização caracterizada por constituir um repositório de invejas e frustrações mal disfarçadas e um albergue de saudosistas e de "betos" e " tias" desactivados.
Atempadamente, cuidou de distribuir os seus acólitos no terreno, os quais, com fidelidade e ímpetos bovinos, lhe garantiram os apoios internos para o assalto final, enquanto minavam a estrutura do partido, retirando o tapete a um dirigente interino de módico gabarito, que não lidera nem sai de cima, apenas estrebucha, agarrado a meia dúzia de fiéis de(os)votos e uma senhora inteligente mas de mau génio, que resistem tenazmente num cenário quase obsceno de faca na liga, com golpes e contragolpes e linguagem vicentina.
Veremos quando, como e qual vai ser o desenlace. No entanto e a não ser que a irmã Lúcia, de quem PP é grande admirador, faça um milagre mesmo antes da beatificação, o partido que espera o futuro ou o actual presidente, não deve passar de um cadáver adiado que deixou de procriar.

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