Estamos na presidência da U.E. e, no entanto, a nossa realidade obscena subsiste, nua e crua. Sentimo-la -os que sentem- como se de uma punhada no peito se tratasse.
Em Portugal existem dois milhões de pobres. É esta a imagem brutal deste País, mais de três décadas decorridas após o vinte cinco de Abril e cerca de vinte e dois anos depois da adesão à então Comunidade Económica Europeia.
Em cada cinco Portugueses há um pobre, ou seja um indivíduo cujo rendimento é insuficiente para manter um padrão de vida com um mínimo de qualidade. Alguém a quem esta sociedade madrasta amputou o direito à dignidade e ao bem-estar, condenando-o a si e à sua família, a viver abaixo do limiar da pobreza, quando lhe recusa a satisfação das necessidades mais fundamentais à existência do ser humano como:
- A possibilidade de se alimentar convenientemente, por não poder adquirir produtos com os nutrientes essenciais cuja carência significa, muitas vezes, um estado latente de fome.
- O acesso aos serviços de saúde, em condições de plena assistência, que lhe permita evitar ou tratar as mais variadas doenças.
- A existência de uma habitação condigna, com espaço suficiente e condições de higiene e salubridade.
- O direito à educação e à cultura, de forma a possibilitar-lhe um melhor entendimento da realidade que o rodeia e permitir-lhe sentir-se como um cidadão de corpo inteiro, perfeitamente integrado na comunidade.
- O acesso à justiça em condições de igualdade com os outros segmentos da população.
A juntar a esta dramática realidade, deparamos também com uma situação absolutamente inaceitável, que lança o opróbrio num País que se diz civilizado e que consiste no facto de a chamada “brecha social”, ou seja a clivagem entre os mais ricos e os mais pobres, ter vindo a aumentar gradualmente nos últimos anos, sem que os sucessivos governos tenham conseguido estancar essa progressão imoral.
Enquanto um segmento privilegiado da população continuar a usufruir das benesses que o sistema lhe proporciona à custa do agravamento das desigualdades sociais, Portugal, presidente efémero, continuará a ser um
País adiado no contexto de uma Europa cada vez mais distante.